Cristiane Pereira discursa na cerimônia de posse da nova diretoria da ASSESPRO-DF. Foto: Divulgação/ASSESPRO-DF
Cristiane Pereira discursa na cerimônia de posse da nova diretoria da ASSESPRO-DF. Foto: Divulgação/ASSESPRO-DF

A primeira mulher a comandar a ASSESPRO-DF

Cristiane Pereira quebra paradigmas ao ser eleita presidente da associação mais antiga do setor de tecnologia do Distrito Federal — um marco na história da entidade e do ecossistema de inovação da capital federal.
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Reportagem: Guilherme Vicente de Morais

Cristiane Pereira não chegou ao topo por acaso. Com quase três décadas de experiência no setor de tecnologia, ela construiu sua trajetória com coragem, resiliência e propósito. Começou sua carreira na área de segurança da informação, ainda nos primórdios da internet no Brasil, e desde então se destacou por projetos que modernizaram o Judiciário e outras instituições públicas. Fundadora do Instituto MultipliCidades, tornou-se referência ao unir tecnologia e impacto social. Agora, assume a presidência da ASSESPRO-DF com a missão de abrir caminhos e representar, pela primeira vez, a força feminina no comando de uma das entidades mais tradicionais da área.

Nesta entrevista à Revista Escreva, Cristiane fala sobre os desafios da sua trajetória, os planos para ampliar a atuação da entidade, fortalecer o ecossistema de tecnologia do Distrito Federal e impulsionar a inclusão de mulheres e novos talentos na área da inovação. Uma conversa que revela não apenas a gestora, mas a liderança comprometida com transformação e equidade.

Cristiane Pereira discursa na Cerimônia de posse da ASSEPRO-DF. Foto: Divulgação/ASSESPRO-DF
Cristiane Pereira discursa na Cerimônia de posse da ASSEPRO-DF. Foto: Divulgação/ASSESPRO-DF

Revista Escreva – Cristiane, ser a primeira mulher eleita presidente da ASSESPRO-DF é um marco. Como você enxerga essa conquista e o que ela representa para você e para o setor de tecnologia?

Cristiane Pereira – Assumir a presidência da ASSESPRO-DF não é apenas assumir um cargo; é assumir um compromisso com um setor vital para o desenvolvimento econômico do país. A entidade, fundada em 1976, é a mais antiga associação empresarial do setor de tecnologia da informação no Brasil. Representa empresas privadas nacionais, startups, desenvolvedoras de software, serviços de TI, telecomunicações e internet. E minha posse marcou um avanço significativo para a ampliação da participação das mulheres em um dos segmentos mais estratégicos e tradicionalmente masculinos.

Revista Escreva – Como começou sua trajetória profissional na área de tecnologia e inovação? Teve alguma figura ou episódio marcante que influenciou esse caminho?

Cristiane Pereira – Sou formada em Administração de Empresas, mas logo no começo da minha carreira profissional, fui trabalhar na área de TI e fui desafiada, em 1995, logo quando estava nascendo a internet, a desenvolver uma política de segurança da informação. Isso me fez apaixonar pelo setor e me aprofundar nos conhecimentos nesta área, onde passei por empresas importantes como a Modulo Security Solutions e a Certisign Certificadora Digital, tendo a oportunidade de fazer a implantação do uso de certificado digital em todo o Judiciário brasileiro e a criação da carteira da OAB com uso de certificado digital ICP-Brasil.

Revista Escreva – Quais foram os maiores desafios que você enfrentou como mulher no setor de tecnologia, um ambiente historicamente dominado por homens?

Cristiane Pereira – Para nós, mulheres que trabalhamos neste setor há quase 30 anos, como eu, sempre o desafio foi obter respeito pelo nosso trabalho, bem como ter salários compatíveis e oportunidades de concorrer a cargos de chefia de forma igualitária. E ser perspicaz o suficiente para esquecer os inúmeros assédios a que acabamos sendo sujeitas.

Revista Escreva – Em sua trajetória até aqui, houve momentos em que você pensou em desistir ou em que o reconhecimento demorou a vir? Como lidou com isso?

Cristiane Pereira – Nunca pensei em desistir! Mas houve um momento, quando eu estava para completar meus 40 anos, em que percebi que deveria tomar as rédeas da minha carreira e criar minha própria empresa. A idade e o crescimento profissional em grandes empresas com sede fora de Brasília nem sempre privilegiam o desempenho profissional de mulheres “prateadas”. Foi aí que criei o Multiplicidade e, logo depois, o Instituto MultipliCidades. Hoje, com 15 anos de empresa, tenho alcançado alguns reconhecimentos, mas ainda enfrento muitos desafios para provar a qualidade dos nossos serviços. E sigo sem desistir! A cada dia mostro os resultados dos projetos que executamos para o desenvolvimento social e econômico, por meio da tecnologia e inovação, para nossa cidade e até para o Brasil.

Revista Escreva – Que conselho você daria hoje para mulheres que sonham em ocupar espaços de liderança na tecnologia e no associativismo empresarial?

Cristiane Pereira – Ousem! Aceitem os desafios que são propostos! E procurem ajudar e dar apoio a outras mulheres. Assim, vamos aos poucos encontrando caminhos para termos, cada vez mais, mulheres nas lideranças de empresas, setores de tecnologia e em associações e sindicatos.

Revista Escreva – Quais são os principais focos da ASSESPRO-DF sob sua gestão? Há mudanças de rumo em relação às gestões anteriores?

Cristiane Pereira – Um dos grandes desafios da minha gestão será transformar a ASSESPRO-DF em uma federação, fortalecendo sua atuação e apoiando a Confederação ASSESPRO. Outras prioridades incluem o incentivo à educação tecnológica, a capacitação de mão de obra qualificada, a formação de estagiários e trainees, bem como a oferta de cursos de especialização.

Com um olhar voltado para o futuro, pretendo fortalecer parcerias com o Governo do Distrito Federal, Governo Federal e entidades relevantes para potencializar o setor de tecnologia da informação na região. Dentre os projetos previstos está a criação de iniciativas que promovam colaboração entre empresas, universidades e governos, visando atrair e reter talentos no DF e fomentar a inovação local, ampliando as conexões entre as empresas, fomentando a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico e garantindo que Brasília se consolide como um dos principais polos de tecnologia do país.

Revista Escreva – Você pretende aproximar mais a entidade de startups, mulheres empreendedoras e novos modelos de negócios em tecnologia? Que ações estão previstas nesse sentido?

Cristiane Pereira – As mulheres têm, em seu DNA, o cuidado e a agregação. Quero promover uma ASSESPRO-DF mais conectada, fortalecendo a relação entre os associados e os potenciais clientes. Nosso grande desafio é ampliar o número de associados, tanto mulheres quanto homens, para impulsionar o desenvolvimento econômico do Distrito Federal a partir da transformação digital, tecnologia da informação e inovação. Nossa gestão atuará nos seguintes pontos específicos:

Representação e política setorial: atuar junto a órgãos públicos para a melhoria da política de informática e incentivo à tecnologia no DF, incluindo a inserção cada vez maior da mulher na área de TI;
Incentivo e apoio: criar programas e projetos que beneficiem startups, pequenas e médias empresas do setor, como, por exemplo, compras públicas de inovação;
Fomento à pesquisa e inovação: estabelecer parcerias estratégicas para incentivar a produção de conhecimento e soluções tecnológicas inovadoras;
Ampliação de benefícios: desenvolver uma carteira de serviços e benefícios mais ampla e acessível para os associados, buscando atrair mais empreendedoras mulheres para se associarem conosco.

Revista Escreva – De que forma a ASSESPRO-DF atuará para representar os interesses das empresas de tecnologia junto ao poder público local e federal?

Cristiane Pereira – Já fazemos isso. Temos atuação em frentes parlamentares, participamos de comissões e comitês junto ao Congresso Nacional e à Câmara Legislativa. Contamos com um serviço de relações governamentais contratado que nos auxilia em todas as pautas importantes junto aos poderes legislativo e executivo, nacional e local.

Revista Escreva – O setor de TI do DF é um dos mais promissores do país. Como a associação pode contribuir para fortalecer ainda mais esse ecossistema?

Cristiane Pereira – Para fortalecer o ecossistema de TI no DF, é crucial investir em educação, capacitação e qualificação da mão de obra, promover parcerias entre empresas e instituições de ensino e pesquisa, adotar métodos ágeis e aprimorar a governança de TIC. Além disso, é fundamental estimular a inovação e a cooperação entre os atores do setor, criando um ambiente que incentive o aprendizado contínuo e a disseminação de conhecimento.

Revista Escreva – Cristiane, ao final do seu mandato, como você gostaria que sua gestão fosse lembrada dentro da ASSESPRO e pelo setor de tecnologia do Distrito Federal?Cristiane Pereira – É uma pergunta reflexiva. Mas, se eu cumprir o básico — como transformar a ASSESPRO-DF em federação, trazer mais mulheres para se associarem, promover o incentivo à retenção de talentos em nossa cidade e iniciar o movimento de compras públicas de inovação no DF — terei deixado um legado para nossa associação e contribuído para o desenvolvimento do setor de tecnologia e inovação do Distrito Federal.

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