Texto: Cassiana Martins
As sucessoras vêm consolidando sua liderança de forma lenta, mas gradativa, de forma que a segregação de funções por gênero e por profissões essencialmente masculinas vem modificando estereótipos e vieses cognitivos. Hoje, vivemos a quarta revolução industrial, que é marcada pelo amplo sistema de tecnologias avançadas, com choques geracionais e um cenário bastante desafiador.
Essa resposta cultural e social foi evidenciada no “Panorama Mulheres na Liderança de 2023”, pelo Talents Group e Insper, comparando a presença das mulheres, entre os anos de 2017 a 2023, nos conselhos: de 10% para 21%; vice-presidência: de 18% para 34% e diretoria: de 21% para 23%. No agronegócio, um setor preponderantemente masculino no passado, a FGV evidencia que 34% dos cargos de liderança em fazendas são ocupados por mulheres, enquanto a Deloitte apresenta 27% de mulheres ocupando cargos na alta gestão.
O crescimento dessas lideranças também está na linha sucessória, em que as mulheres estão cada vez mais se preparando para assumir os negócios da família, demonstrando também que há interesse, intenção e um processo sucessório que sustenta sua decisão de sucessão, não sendo mais a escolhida, mas sim como protagonista de sua escolha. Exemplifico pela experiência de ser procurada para mentorar e preparar jovens sucessoras, que mesmo não estando como primogênitas ou convidadas à sucessão, se preparam e assumem esse papel por competência ao longo do tempo.
Há muitas dores vivenciadas pela sucessora e pelo sucedido, que impactam mais fortemente as mulheres. A autocobrança pela perfeição, equilibrando os papéis de mãe, esposa, gestora, líder, ainda demonstrando ser competente em seu fazer profissional e merecedora da posição que ocupa nos negócios, é apenas uma parte. Elas lidam, ainda, com o receio de serem vistas apenas como as filhas dos donos, o que revela também a insegurança e o medo de não corresponder às expectativas de progenitores e de colegas. Olhando o copo meio cheio, estamos no caminho, mas ainda há muito a conquistarmos, por exemplo: a equidade salarial; diminuição de desigualdade de gênero em cargos de liderança, com a agenda 2030 e o Pacto Global da ONU. Culturalmente, a liderança feminina sempre foi vista como um alicerce emocional e nesse cenário instável em que vivemos, ela é primordial em nossa sociedade.