À frente das políticas sociais do Governo do Distrito Federal, Mayara Noronha Rocha compartilha com a Revista Escreva sua trajetória, os desafios de liderar causas sociais e os impactos concretos de iniciativas que têm mudado a vida de milhares de famílias no DF.
Entrevista: Guilherme Vicente de Morais

Discreta, atenta e firme no que defende, Mayara Noronha Rocha é uma liderança que escolheu atuar longe dos holofotes, mas perto de quem mais precisa. Primeira-dama do Distrito Federal, desde 2019, ela tem se dedicado a uma área em que os desafios são grandes e urgentes: o cuidado com as pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Mais que representar, ela atua: visita creches; conversa com lideranças comunitárias; acompanha de perto os programas que chegam às regiões mais afastadas do Distrito Federal.
Nesta entrevista à Revista Escreva, Mayara fala a respeito do trabalho que realiza, os aprendizados da função e os caminhos que ainda quer trilhar dentro das políticas sociais.
Revista Escreva: Mayara, como a Sra. enxerga o papel de uma primeira-dama nos dias de hoje, especialmente em uma capital como Brasília?
Mayara Noronha Rocha: O papel de uma primeira-dama transcende a mera representação social. Vejo essa posição como uma oportunidade única de mobilizar recursos, conectar diferentes setores da sociedade e fortalecer políticas públicas que gerem impacto social duradouro. Em uma capital como Brasília, marcada por contrastes e desafios diversos, essa atuação exige escuta ativa, diálogo constante e a construção de parcerias entre governo, iniciativa privada e sociedade civil. A capacidade de articular dentro e fora do governo é essencial para impulsionar ações que alcancem os mais vulneráveis, promovendo mudanças concretas e sustentáveis.
Revista Escreva: Desde o início do governo, quais foram as principais frentes de trabalho que a Sra. escolheu atuar e por quê?
Mayara Noronha Rocha: Minhas principais frentes de trabalho foram pautadas pelo compromisso com a assistência social, o fortalecimento das políticas para a primeira infância, o empoderamento feminino e, principalmente, a segurança alimentar. Assumi essas áreas por compreender que a vulnerabilidade social exige ações concretas e humanizadas para transformar realidades.
Revista Escreva: Um dos projetos de destaque sob sua coordenação é o Humanizar. Pode nos contar um pouco mais sobre como ele surgiu e os impactos que tem gerado?
Mayara Noronha Rocha: O Projeto Humanizar nasceu de uma experiência pessoal. Ao levar meu filho para atendimento em uma unidade hospitalar do DF, senti na pele a falta de acolhimento. Foi naquele momento que decidi criar uma estratégia para garantir que nenhuma família passasse pelo mesmo.
Para isso, contamos com 130 colaboradores treinados, entre auxiliares, analistas e chefias de núcleo, que realizam escuta qualificada, orientam os pacientes e agilizam o encaminhamento de suas demandas. Além disso, o projeto tem o apoio de um Conselho De Acompanhamento, garantindo que o acolhimento seja sempre aprimorado.
Iniciado no Hospital de Base, o Projeto Humanizar foi expandido para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), Hospital Cidade do Sol e para as 13 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) administradas pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGESDF). Seguimos avançando, porque cada pessoa que entra em uma unidade de saúde merece ser recebida com dignidade e cuidado.
Revista Escreva: Em uma cidade com tantos contrastes sociais, quais têm sido os maiores desafios enfrentados na execução de políticas de impacto social?
Mayara Noronha Rocha: O maior desafio da política social é garantir que os benefícios cheguem, de forma eficaz e justa, àqueles que realmente necessitam. Brasília, por sua diversidade socioeconômica e grandes diferenças entre suas regiões administrativas, exige estratégias específicas para atender cada comunidade de maneira adequada. Por isso, trabalhamos continuamente para expandir nossa rede de atendimento e fortalecer parcerias com a sociedade civil e o setor privado, buscando soluções que tornem o suporte social mais acessível e eficiente.
Revista Escreva: A Sra. costuma visitar comunidades e instituições em diferentes regiões do DF. Como essas escutas presenciais influenciam suas decisões e iniciativas?
Mayara Noronha Rocha: As visitas são essenciais para compreender a realidade da população e garantir que nossas políticas atendam às suas reais necessidades. A partir dessas escutas, aprimoramos nossas ações e nossos programas, como o Cartão Prato Cheio, criado em 2020, que atualmente beneficia 100 mil pessoas por nove meses e já passará por ampliação para mais 30 mil famílias e por um período de até 18 meses.
Revista Escreva: Como tem sido o diálogo com outras pastas do governo e com a sociedade civil para garantir a efetividade dos programas sociais que acompanha?
Mayara Noronha Rocha: Nossas ações são construídas a partir da união de forças entre a sociedade e o Estado. Nós construímos uma rede de empatia, em que empresários e a sociedade civil fazem doações, as quais se somam aos recursos do Poder Público e são levadas diretamente às pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social. Essa parceria tem sido fundamental para expandir o alcance de nossas iniciativas, promovendo solidariedade e transformação social. Um exemplo desse engajamento é o Solidariedade Salva, fruto da colaboração entre o Governo do Distrito Federal, empresários e produtores de eventos, a campanha alia cultura e empatia por meio da meia-entrada social, que garante ingressos com valor mais acessível aos que doam alimentos. Desde 2023, já distribuímos mais de 277 toneladas de alimentos, beneficiando aproximadamente 111 mil pessoas e seguimos empenhados em ampliar esse impacto, garantindo que a solidariedade chegue a quem mais precisa.
Revista Escreva: A Sra. é mãe e mulher atuante. De qual forma sua vivência pessoal influencia sua forma de liderar causas sociais?
Mayara Noronha Rocha: Sou brasiliense, cresci em Taguatinga e estudei na rede pública, vivenciando desde cedo os desafios das regiões administrativas. A maternidade ampliou minha sensibilidade para as dificuldades das famílias em situação de vulnerabilidade social, reforçando meu compromisso em promover o bem-estar de crianças e mulheres, garantindo-lhes melhores oportunidades.
Nada me motiva mais que ver famílias com refeições dignas na mesa, crianças felizes e a chance de ajudar quem mais precisa. Isso me faz sentir útil e alinhada ao propósito de servir. Por isso, trabalhamos para ampliar nossas campanhas e arrecadações, além da luta pela garantia de assistência social ao longo de todo o ano. Distribuímos alimentos, roupas, agasalhos, brinquedos, chocolates, levando dignidade e esperança às famílias do Distrito Federal.

Revista Escreva: A atuação social de uma primeira-dama, muitas vezes, não recebe o devido reconhecimento institucional. A Sra. sente isso? Como lida com esse tipo de desafio?
Mayara Noronha Rocha: De fato, a atuação social da primeira-dama nem sempre é reconhecida formalmente, mas isso em nada reflete em nosso trabalho. Meu foco é garantir que as iniciativas gerem impacto real na vida das pessoas. O reconhecimento vem através dos resultados e do retorno positivo da população atendida.
Revista Escreva: Quais ações ou conquistas, até agora, a Sra. considera como as mais significativas do seu trabalho no governo?
Mayara Noronha Rocha: Trabalhamos em muitas frentes, então é difícil escolher apenas uma. Mas, além do Projeto Humanizar, destaco o Cartão Prato Cheio, uma iniciativa que garante dignidade às famílias ao fortalecer a segurança alimentar no Distrito Federal. Esse programa tem sido essencial para ampliar o número de lares com acesso regular à alimentação, contribuindo diretamente para a redução da vulnerabilidade social. Graças a ações como essa, Brasília se tornou uma das três únicas capitais brasileiras referência nacional em políticas de segurança alimentar e nutricional, reconhecimento que resultou na conquista do Selo Betinho – uma iniciativa da sociedade civil que homenageia as capitais mais comprometidas no combate à fome e na promoção da segurança alimentar.
Além disso, seguimos promovendo ações solidárias que impactam diretamente a vida da população. A Campanha Nosso Natal, por exemplo, consolidou-se como a maior ceia social do mundo. A Campanha do Agasalho já distribuiu mais de 71 mil itens, garantindo conforto às famílias durante o inverno. Por sua vez, a Campanha Vem Brincar Comigo proporcionou a entrega de mais de 120 mil brinquedos, espalhando alegria entre milhares de crianças.
Com muito trabalho e participação social, nossas ações e campanhas seguem crescendo, reafirmando nosso compromisso de construir um Distrito Federal mais justo, solidário e acolhedor para todos.
Revista Escreva: Mayara, qual é o legado que a Sra. pretende e quer deixar como primeira-dama do Distrito Federal?
Mayara Noronha Rocha: Quero deixar um legado de solidariedade e transformação social. Todas essas ações são construídas a partir da união de forças entre a sociedade e o Estado: nós construímos uma rede de empatia, em que os empresários e a sociedade civil fazem doações, as quais se somam aos recursos do Poder Público e são levadas diretamente às pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social. Quando unimos nossos esforços com o propósito de ajudar e levar dignidade a quem precisa, não há limites para o que podemos alcançar.