Rede Muda Mundo transforma impacto social em motor econômico no Brasil

0 Shares
0
0
0
0
0

Com 15 milhões de pessoas beneficiadas em um único ano, a organização comandada por Fábio Silva se consolida como um dos maiores ecossistemas de impacto do País. Modelo de franquia social e expansão nacional atraem olhares do setor privado

Reportagem: Thiago Tião

Em um país em que a desigualdade social insiste em atravessar décadas, poucos modelos têm conseguido traduzir impacto em escala com inteligência econômica. A Rede Muda Mundo (RMM) é uma dessas exceções. Criada há 14 anos, em Recife, e hoje com atuação nacional, a RMM encerrou 2024 com um marco difícil de ignorar: mais de 15 milhões de pessoas impactadas diretamente em apenas 12 meses.

Fábio Silva, fundador da Rede Muda Mundo

Sob a liderança de Fábio Silva, eleito empreendedor do ano 2024, pela Ernst & Young Brasil, na categoria Impacto, a organização vem mostrando que é possível combinar tecnologia, voluntariado, qualificação profissional e inclusão produtiva dentro de um modelo institucional escalável, sustentável e, acima de tudo, replicável.

“Estamos falando de um ecossistema que nasce da mobilização cidadã, mas que dialoga com as lógicas do mercado. Investimos em inovação social com gestão, com dados e com metas claras de resultado.”, resume Fábio Silva.

A trajetória da RMM aponta para um caminho pouco trilhado no Brasil: o da economia do impacto estruturada. Em vez de depender majoritariamente de doações pontuais, a organização diversificou suas fontes de financiamento: 46% da captação em 2024 veio de parcerias públicas, 32% de negócios sociais e 22% de doações privadas.

Campanha emergencial realizada em Olinda para ajudar para as vítimas das chuvas no Grande Recife

Esse desenho é fortalecido por um modelo de franquia social, que transforma territórios por meio de unidades físico-digitais com gestão compartilhada. A mais recente delas, inaugurada em 2024 no bairro da Várzea (Zona Oeste do Recife), em parceria com o Grupo Cornélio Brennand, já qualificou mais de 3.600 pessoas, com 150 cursos realizados e 20 feiras colaborativas em comunidades da região.

Agora, o modelo se prepara para romper fronteiras regionais. No segundo semestre de 2025, a organização abrirá, no centro de São Paulo, a Casa Zero 11, uma nova unidade com foco em transformação urbana, inovação cidadã e inclusão produtiva.

“O que começamos no Recife agora chega a São Paulo. Nosso objetivo é ativar territórios urbanos com potência social e capacidade produtiva. A RMM quer estar no mundo a partir do Recife”, afirmou Fábio, em uma reunião com investidores.

A RMM se posiciona como um hub de articulação entre sociedade civil, setor público e empresas privadas. Por meio do braço Transforma Brasil – uma social tech especializada em engajamento cívico e voluntariado – já são mais de 1,3 milhão de voluntários cadastrados e 5 milhões de horas de trabalho voluntário só em 2024.

SOS Rio Grande do Sul – através da plataforma Transforma Brasil, que faz parte do ecossistema da RMM – se tornou o canal de doação oficial do governo do estado

No ano passado, essa força foi decisiva durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Em resposta à crise, o governo estadual formalizou parceria com o Transforma Brasil, tornando a plataforma a principal base de mobilização de voluntários do estado.

Se o discurso da “inovação social” ainda parece vago para alguns, os números da RMM ajudam a ancorá-lo na realidade:

  • 23 milhões de pessoas impactadas desde a fundação;
  • 5 mil comunidades atendidas;
  • 3.600 pessoas qualificadas para o mercado de trabalho;
  • 2.120 lideranças comunitárias formadas;
  • 460 iniciativas sociais fortalecidas;
  • 12 mil horas de conteúdo formativo;
  • Mais de 1 milhão de voluntários cadastrados;

Todos os dados são auditáveis e atualizados em tempo real por sistemas internos, o que confere maior confiabilidade às empresas e aos fundos interessados em apoiar ou escalar o modelo.

Fábio Silva e empresários Paula Meira e Urbano Vitalino Neto, conselheiros da Rede Muda Mundo

Com mais de 50 empresas investidoras em seu portfólio de parcerias, a RMM demonstra que responsabilidade social corporativa pode e deve ser estratégica. Um exemplo é a Iquine, que, em 2024, financiou o curso de pintura no Espaço Cultural Cores do Amanhã, no Recife. A iniciativa une capacitação profissional, geração de renda e revitalização de espaços urbanos com apoio técnico e insumos da marca. “Não é sobre fazer filantropia. É sobre investir em transformação real. A RMM ajuda a traduzir nossa missão em resultados sociais concretos”, diz Magaly Marinho, gerente de marketing da Iquine.

A trajetória da Rede Muda Mundo aponta para um caminho pouco trilhado no Brasil: o da economia do impacto estruturada. Em vez de depender majoritariamente de doações pontuais, a organização diversificou suas fontes de financiamento: 46% da captação em 2024 veio de parcerias públicas, 32% de negócios sociais e 22% de doações privadas.

Leia Também

Como as cidades podem inovar? 

Em um cenário global cada vez mais competitivo, as cidades precisam se reinventar para garantir o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida de seus habitantes. A inovação urbana vai além da adoção de tecnologias inteligentes; trata-se de construir um ecossistema que estimule a criatividade, o empreendedorismo e a colaboração entre diversos setores da sociedade. 
Ler Mais

O empreendedorismo feminino e a força da rede de apoio

Empreender, para muitas mulheres, vai além da busca por independência financeira; é um ato de resistência e transformação social. O caminho, no entanto, pode ser desafiador, e é nesse cenário que a rede de apoio se torna essencial. A sororidade – essa conexão genuína entre mulheres que se impulsionam mutuamente – não apenas fortalece trajetórias individuais, mas amplia o impacto coletivo.
Ler Mais