Colunista: Paula Sales
Empreender, para muitas mulheres, vai além da busca por independência financeira; é um ato de resistência e transformação social. O caminho, no entanto, pode ser desafiador, e é nesse cenário que a rede de apoio se torna essencial. A sororidade – essa conexão genuína entre mulheres que se impulsionam mutuamente – não apenas fortalece trajetórias individuais, mas amplia o impacto coletivo.
Vivi isso de forma concreta quando recebi um convite para integrar a delegação brasileira na ONU. Era uma oportunidade incrível, mas, naquele momento, minha vida pessoal exigia uma pausa. Diante disso, tomei uma decisão que para muitos poderia parecer inusitada: em vez de simplesmente declinar, indiquei amigas que poderiam representar nossa voz. Mulheres que, como eu, atuam no mesmo segmento e compartilham dos mesmos valores e propósitos. Algumas pessoas poderiam enxergar essa atitude como um risco, afinal, há quem acredite que dividir espaços significa perder relevância, mas a realidade é outra, pois, quando uma mulher avança, todas avançam.
Essa experiência reforçou algo que sempre defendi: há espaço para todas. Não precisamos operar a partir da lógica da escassez, competindo umas com as outras. Ao contrário, quando nos apoiamos, abrimos portas para que mais mulheres ocupem lugares estratégicos, levando diferentes perspectivas e ampliando nossa presença em ambientes que historicamente nos foram negados. Como Bell Hooks destaca em Ensinando a Transgredir, “o engajamento na educação feminista exige um compromisso com a construção de comunidades de resistência, nas quais o conhecimento é compartilhado e as experiências são validadas” – uma premissa que também se aplica ao universo do empreendedorismo feminino.
No empreendedorismo, essa lógica se aplica de maneira ainda mais potente. Quando compartilhamos oportunidades, fortalecemos não apenas indivíduos, mas todo um ecossistema de mulheres que inovam, lideram e transformam o mercado. Ganham aquelas que conquistam novas experiências, ganha quem abre mão em determinado momento sabendo que há reciprocidade e ganha a sociedade de forma geral, ao ter mais mulheres em espaços de decisão. Caso queiramos um mundo mais equitativo, precisamos normalizar gestos como esse. A verdadeira liderança não se mede pelo espaço que ocupamos sozinhas, mas pela nossa capacidade de abrir caminho para outras. Afinal, sucesso que não é compartilhado é, no máximo, um voo solitário.

Paula Sales é fundadora da Pazziti Treinamento. É assistente social, gestora pública, empreendedora e palestrante, com mais de 20 anos no terceiro setor, promovendo diversidade e inclusão.