Autor: Eduardo Galvão
Não é sobre tempo livre. É sobre o que você faz com ele — e com quem você está enquanto ele passa.
Vivemos dizendo que não temos tempo. Mas a pergunta que mais me provoca ultimamente é: e o que estamos fazendo com o pouco tempo que temos? Um estudo recente da Harvard Business Review intitulado How the Busiest People Find Joy, revelou algo que, no fundo, todos já sentimos: a alegria não depende da quantidade de horas livres, mas da qualidade do que preenche essas horas. E, para além disso, depende da presença, da intenção e da conexão genuína com o momento, algo cada vez mais raro no turbilhão de estímulos diários.
A pesquisa analisou o comportamento de quase 2 mil profissionais e trouxe achados simples, mas profundos. As pessoas relatam mais alegria quando fazem atividades com outras pessoas, sejam amigos, colegas, familiares ou parceiros. E mesmo quando estão sozinhas, se escolhem algo ativo, como caminhar, escrever, cozinhar, desenhar ou aprender algo novo, a satisfação aumenta. Por outro lado, os momentos passivos, como rolar o feed ou maratonar séries sem foco, oferecem pouco retorno emocional. O mais surpreendente: até o lazer em excesso cansa. Quando passamos mais de 6 horas por semana em uma única atividade, a curva de alegria começa a cair.
Mas talvez o dado mais revelador seja este: quem experimenta alegria no tempo livre também encontra mais propósito no trabalho. Ou seja, viver com presença e prazer fora do expediente transforma a forma como encaramos o que fazemos dentro dele. A alegria transborda e nutre a energia de viver, de colaborar, de inovar e de liderar com mais clareza, empatia e criatividade. Um time com tempo de qualidade fora do trabalho entrega muito mais dentro dele, com motivação e saúde.
O estudo aponta cinco práticas simples que fazem toda a diferença:
1. Conecte-se com pessoas (de verdade, não por algoritmo);
2. Evite o modo zumbi, movimente corpo e mente com intenção;
3. Siga o que te inspira, não só o que parece útil ou produtivo;
4. Varie o repertório, pois até o lazer precisa de contraste e renovação; e
5. Proteja seu tempo livre como protege sua agenda. Porque ele vale tanto quanto.
Alegria não é luxo. É estratégia de regeneração, liderança e bem-estar sustentável. E você? Quando finalmente tem tempo… o que faz com ele?
Eduardo Galvão é diretor da consultoria global Burson e professor de Políticas Públicas do Ibmec DF.