Reportagem: Guilherme Vicente de Morais
Quando a escola vira laboratório de sentidos, conexões e experiências

Se há um consenso sobre o futuro, é este: ele não será uma extensão previsível do presente. E quando se fala em educação, essa verdade se impõe com urgência. Modelos lineares, currículos rígidos e avaliações padronizadas já não dão conta da complexidade do mundo contemporâneo. A escola, para continuar fazendo sentido, precisa se transformar.

A metáfora da aula expositiva, com o professor no centro e o conteúdo no quadro, faliu. “A ruptura pedagógica radical está na centralidade dos processos de aprendizagem baseados na produção de significados para informações relevantes”, afirma Luciano Meira, professor da UFPE e Head de Pedagogia na Proz Educação. Para ele, as experiências de aprendizagem precisam emergir do diálogo, da prática e da construção compartilhada. E isso muda tudo: do currículo ao espaço físico, da avaliação ao papel do professor.
No SENAI, essa mudança já está em curso. Felipe Morgado, superintendente de Educação Profissional e Superior da instituição, acredita que a educação profissional deixará de ser uma etapa terminal para se tornar um pilar do lifelong learning. “O modelo tradicional dará lugar a jornadas de aprendizagem personalizadas, com foco no desenvolvimento de competências integradas, não apenas no conteúdo”, explica. Em vez de turmas homogêneas, trilhas adaptativas. Em vez de diplomas fixos, micro certificações ao longo da vida.

Essa abordagem, no entanto, exige um novo ecossistema educacional: mais flexível, conectado e tecnológico. Felipe cita o uso de inteligência artificial para personalizar o ensino, a adoção de metodologias ativas como a aprendizagem baseada em projetos, e a aplicação de realidade virtual e aumentada em simulações industriais.
“A escola do futuro é um espaço imersivo de aprendizagem prática, com foco na solução de problemas reais da indústria e da sociedade”, afirma.
A tecnologia, porém, não é um fim em si mesma. Andréia Ribeiro, fundadora da startup Midiar, residente do Instituto SESI SENAI de Tecnologias Educacionais, defende que “a tecnologia é ferramenta, não protagonista”. Segundo ela, o erro de muitas instituições durante a pandemia foi transpor o ensino presencial para o digital sem adaptá-lo ao meio. “O contexto, o público e o objetivo educacional precisam orientar o uso da tecnologia, senão corremos o risco de apenas digitalizar práticas obsoletas”, alerta.
Ela compartilha casos em que o uso sensível da tecnologia ampliou a aprendizagem: vídeos curtos para jovens com linguagem visual adequada, webséries interativas para profissionais da saúde, e experiências baseadas em storytelling com IA. Mas destaca que, para escolas públicas e professores do Brasil profundo, o maior desafio ainda é o acesso, não apenas às ferramentas, mas à formação para usá-las de forma significativa.

Elaine Andrade, consultora em educação, mestre em tecnologia e especialista em inovação educacional também reforça que o futuro da educação não é sobre dispositivos, mas sobre consciência. “Estamos migrando para uma educação que precisa integrar ciência, tecnologia e valores humanos. Isso exige líderes escolares conscientes, capazes de criar espaços vivos de aprendizagem, e políticas públicas que olhem para além do imediato.”
Na prática, isso significa repensar a própria arquitetura da escola: não mais como grade curricular, mas como hub de experiências. Elaine sugere que escolas, universidades e empresas incorporem o pensamento de futuros aos seus processos, permitindo que alunos, professores e gestores exercitem o planejamento de longo prazo e desenvolvam repertório para lidar com cenários de incerteza.
Apesar dos avanços, o desafio é gigantesco. O Brasil ainda lida com desigualdades estruturais, baixos índices de alfabetização funcional e uma cultura escolar que penaliza o erro e recompensa a memorização. Mas há brechas sendo abertas por escolas que prototipam novos formatos, por startups que conectam conhecimento à prática, e por instituições que transformam a sala de aula em espaço de autoria e não apenas de consumo.
Se há um caminho, ele passa por integrar a aprendizagem ao cotidiano dos alunos, promover a colaboração entre saberes distintos e colocar o humano, com suas emoções, sonhos e limites, no centro do processo educativo. A educação do futuro não será linear, nem única. Será feita de múltiplos percursos, muitas vozes e infinitas possibilidades.
O futuro da educação exige novas mentalidades, novas conexões e um novo compromisso com o aprender ao longo da vida.