Administração celebra 60 anos no Brasil. Reportagem da Escreva homenageia a profissão e dá voz a quem a faz acontecer.
Reportagem: Hulda Rode
Algumas carreiras mudam destinos individuais. Outras escrevem capítulos da história de um país. A Administração é uma delas. O que começou como um setor dedicado a organizar papéis e contas hoje impulsiona empresas, governos, empreendedores e sonhos.
Em 2025, a Administração no Brasil completa 60 anos de regulamentação, celebrando seis décadas de evolução, aprendizado e impacto. São mais de 470 mil administradores registrados nos conselhos, fortalecendo a competitividade, a inovação e a gestão humana no país. A nova geração mostra como a formação amplia horizontes, impulsiona negócios e gera práticas sustentáveis que transformam a sociedade.
No setor público, a Administração se revela essencial para estruturar cidades, equilibrando demandas da comunidade com prioridades governamentais. Na iniciativa privada, a boa gestão é o alicerce para estruturar processos, treinar equipes e consolidar culturas organizacionais sólidas. As entidades de classe reforçam a valorização da profissão, garantindo ética, qualidade e atualização constante dos profissionais.
A Administração foi protagonista de avanços na governança pública, na governança corporativa e no incentivo à sustentabilidade. Com os desafios da Inteligência Artificial e da automação, a atualização profissional se torna ainda mais indispensável. O futuro aponta para uma gestão cada vez mais estratégica, ética e comprometida com a responsabilidade social.
Nesta reportagem, sessenta anos depois, a Administração se confirma como ciência vital para transformar vidas, fortalecer instituições e abrir caminhos para o progresso.
A nova geração: sonhos e oportunidades

Entre as vozes que representam essa trajetória está a da empresária e recém-graduada Naiara Arriel. “A Administração abriu meus horizontes. Descobri que há espaço para quem quer empreender, para quem deseja inovar e para quem acredita que a boa gestão pode transformar vidas”, afirma. Antes empreendedora por experiência, buscou a graduação para aperfeiçoar sua prática.
“Sinto-me privilegiada, porque estudar e empreender ao mesmo tempo não é fácil. Muitas vezes eu estava cansada, mas também me sentia realizada, pois empreender enquanto cursava Administração me fez sair na frente e melhorar o meu negócio.” Na sua empresa, a Line Bakery, iniciativas surgiram a partir do aprendizado: projeto de bem-estar, energia fotovoltaica e embalagens sustentáveis. “Hoje, estou muito mais confiante. Consigo compreender uma conversa contábil e não dependo mais totalmente de terceiros.”
Formação acadêmica: entre a tecnologia e o olhar humanizado
As mudanças na formação acadêmica em Administração refletem diretamente as transformações do cenário econômico, cultural e político do país. Se antes o foco estava em técnicas funcionais de resolução de problemas e análise de riscos, hoje a profissão exige uma formação atualizada, capaz de integrar competências técnicas e emocionais.

Para a professora substituta do Departamento de Administração da Universidade de Brasília, Bárbara Medeiros, a presença da inteligência artificial, da programação e da análise de dados nos currículos representa um avanço importante, mas ainda há lacunas quanto ao domínio de ferramentas básicas e ao uso prático da tecnologia no cotidiano das organizações.
‘Acredito que os cursos de Administração deram um passo importante ao incluir nos seus currículos, disciplinas como programação, inteligência artificial, análise de dados, business intelligence, transformação digital e inovação tecnológica, que contemplam competências técnicas interligadas à tecnologia e inovação, requeridas atualmente para o administrador. Mas ainda, há muito a avançar. Por serem disciplinas muito técnicas, há gaps de ensino, principalmente no que diz respeito ao uso básico de ferramentas tecnológicas, como Excel e outras plataformas fundamentais para a gestão. Há a necessidade de buscar cursos complementares para embasar bem essa nova forma de administrar via uso prático de tecnologias. Trata-se também de abertura ao novo com interesse genuíno por uma aprendizagem constante”.
Bárbara ressalta que a formação do administrador precisa ir além da técnica, dialogando com áreas como psicologia, sociologia e filosofia, para ampliar o olhar humanizado e preparar profissionais que enfrentem não apenas os desafios tecnológicos, mas também as complexas relações humanas nas organizações. Assim, a formação integral, que une inovação, pensamento crítico e sensibilidade social, é o caminho para preparar novas lideranças mais adaptáveis, inovadoras e comprometidas com ambientes de trabalho respeitosos e inclusivos.
O setor público em movimento

No setor público, a Administração é essencial para estruturar cidades. O administrador Gustavo Aires, que já atuou na Câmara Legislativa, no Tribunal de Contas do DF e administrou Samambaia, hoje lidera o Cruzeiro.
“Acredito que um dos principais aprendizados da minha trajetória é a importância de unir técnica, escuta ativa e presença nos territórios. A gestão pública precisa ser planejada, mas também humana”, afirma.
O desafio, segundo ele, é equilibrar demandas da comunidade e prioridades do governo. “Meu papel é fazer essa ponte — entender as prioridades do governo e representar as necessidades da região. Nem sempre é fácil, mas com transparência e diálogo constante, é possível encontrar soluções viáveis e efetivas.”
Aires aposta na escuta ativa como estratégia central: “Realizamos reuniões com lideranças e moradores, mantemos canais abertos e utilizamos indicadores técnicos. A combinação entre escuta popular e análise de dados nos permite priorizar com justiça e eficiência.”
Uma via de mão dupla

Para o contador e sócio da Facilite Brasil e CEO da Facilite Europa, Gabriel Belém, a Administração é peça-chave para o crescimento sólido do escritório. “Desde que comecei na Facilite, percebi que sem uma estrutura administrativa sólida a empresa não iria longe. Hoje, como sócio, vejo que a Administração foi essencial para a gente crescer com consistência. Usamos princípios de gestão para estruturar processos, treinar o time e criar uma cultura focada em resultado.”
Entre os pilares, destaca organização, clareza e autonomia: “Temos uma operação descentralizada, com pessoas no Brasil, Portugal, Estônia e Uruguai. Mas o que sustenta tudo é a autonomia com responsabilidade: damos liberdade para líderes decidirem, mas sempre baseados em dados.”
O olhar das entidades sobre a Administração
No Jubileu de Diamante da Administração, o vice-presidente do CFA, Gilmar Machado, ressalta o papel estratégico da profissão. “Ao longo dos 60 anos, a ciência da Administração foi protagonista de importantes avanços tanto na governança pública quanto empresarial. No setor público, contribuiu para modernizar a gestão e promover transparência e eficiência. Na esfera empresarial, impulsionou governança corporativa, sustentabilidade, inovação e empreendedorismo.”
Segundo ele, os conselhos foram essenciais para valorizar a profissão. “Com a regulamentação e fiscalização do exercício profissional, garantimos que apenas profissionais habilitados atuem na área, elevando a qualidade da gestão. Hoje, são mais de 470 mil registrados no país, comprometidos com excelência, ética e inovação.”
Hélio Queiroz, presidente do CRA-DF, reforça a relevância da atuação regional: “Brasília é o coração político e administrativo do país. Aqui, sentimos de perto como a presença do administrador é essencial para a gestão pública e privada. Nosso papel é apoiar, orientar e valorizar esses profissionais.”

Ele alerta para os desafios tecnológicos: “A automação e a Inteligência Artificial trazem oportunidades e incertezas. É fundamental investir em atualização constante, preparando profissionais para atuar de forma ética e eficiente nessa nova era e fortalecendo a gestão em todos os setores.”
Sessenta anos depois, a Administração se mostra plural e vital. Hélio afirma que o futuro da profissão dependerá da evolução tecnológica, da inovação e da prática orientada à sustentabilidade e à responsabilidade social. Gilmar reforça: “atuar com responsabilidade social, ter visão estratégica e compromisso com a inovação são lições essenciais para a nova geração de administradores”.
Legado e futuro
A reportagem da revista Escreva celebra não apenas números e marcos, mas as histórias de quem faz da Administração um legado vivo. Sessenta anos depois, o desafio não é apenas olhar para trás com orgulho, mas seguir adiante com coragem. Onde há gestão, há vida. Onde há Administração, há progresso. Onde há administradores, sempre haverá caminhos.