Colunista: Eduardo Galvão
Lembro-me bem do dia em que recebi o diagnóstico do meu primeiro filho. Foi um baque. Não porque houvesse algo de errado com ele – nunca houve –, mas porque minha ignorância pintava um cenário cheio de limitações, como se o futuro tivesse sido abruptamente redesenhado. Eu via dificuldades e barreiras que, com o tempo, descobri que não eram bem como eu imaginava. Os desafios são apenas diferentes. Aprendi que a neurodiversidade não é um “bicho de sete cabeças”, mas uma outra forma de ver, sentir e interagir com o mundo.
Essa descoberta, que começou na minha vida pessoal, transformou também minha visão sobre o ambiente de trabalho. Quando me deparei com a possibilidade de contratar uma pessoa neurodiversa, já não havia hesitação – pelo contrário –, vi uma oportunidade. Se eu, como pai, tinha aprendido tanto com meu filho, imagine o quanto eu e minha equipe poderíamos crescer juntos, aprendendo e evoluindo enquanto líderes e colegas.
Isso demandou alguns cuidados. Tentar criar um ambiente em que a neurodiversidade fosse vista como um ativo e não um desafio exigiu mudanças. Trouxemos treinamentos, repensamos processos e, principalmente, empoderamos os neurodiversos da equipe. O impacto foi enorme. Descobrimos habilidades que os neurotípicos, muitas vezes, não alcançam: uma capacidade de hiperfoco impressionante, criatividade fora do comum, pensamento analítico diferenciado. Empresas que compreendem isso conseguem enriquecer suas culturas e ganham muito em inovação e resultados.
Mas o mundo corporativo ainda erra ao tratar a neurodiversidade como uma exceção. Acredita-se, ainda, que o padrão é neurotípico, quando, na verdade, o mundo é neurodiverso. Valorizá-las não é uma concessão. É um passo necessário para qualquer ambiente que deseje ser verdadeiramente diverso, criativo e conectado ao mundo real. Esse caminho não é complicado. Pequenas adaptações fazem uma grande diferença: criar um ambiente de trabalho mais flexível; adotar uma comunicação clara e acessível; investir em treinamentos para que toda a equipe compreenda e valorize essas diferenças.

Se há um conselho que eu daria a qualquer líder, é este: aprenda a respeito de neurodiversidade. Você vai se surpreender. Não apenas pelo impacto positivo que pode ter na vida de alguém, mas pelo que essa experiência pode transformar em você e na sua equipe. Quando abrimos espaço para diferentes formas de pensar, ganhamos novas perspectivas sobre o mundo – e isso, sem dúvida, nos torna líderes e pessoas muito melhores.
Eduardo Galvão é pai de neurodiverso, diretor de Public Affairs da consultoria global Burson e coordenador e professor do MBA em Políticas Públicas do Ibmec DF.