Brasília: a capital de negócios

A cada ano, mais mulheres encontram no empreendedorismo a busca pela realização profissional, a autonomia financeira e boas conexões.
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Texto: Andreza Nunes e Guilherme Vicente de Morais

O crescimento do empreendedorismo no Brasil ficou ainda mais evidente nesses últimos anos. Atualmente, o País tem mais de 42 milhões de empreendedores. A motivação para abrir o próprio negócio também mudou. Antes visto como uma saída para driblar o desemprego, hoje o olhar se volta para a realização profissional. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Sebrae e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe) e pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor).

Essa mudança sinaliza uma nova realidade para o País, segundo Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional. “Historicamente, os empreendedores que abrem um negócio a partir de um propósito são mais qualificados, se preparam melhor antes de criarem a empresa e terminam tendo uma atividade mais longeva quando comparado àqueles que iniciam na atividade para buscar um complemento da renda familiar”.

Com o aumento do número de pessoas empreendendo, as mulheres passaram também a lutar por espaços de protagonismo. Não somente para mudar a própria realidade, mas também a realidade das pessoas que as cercam. O empreendedorismo feminino ganha força à medida em que elas buscam, no mundo dos negócios, a equiparação econômica que o mercado de trabalho tradicional ainda não oferece.

Da disparidade salarial entre homens e mulheres que desempenham as mesmas atividades até as demissões pós-licença maternidade, muitas são as razões que as levam a abrir o próprio negócio. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, serão necessários, pelo menos, 257 anos para que haja equidade de gêneros no ambiente de trabalho. Para encurtar esse tempo, é preciso que os governos, as empresas, as entidades representativas e a sociedade como um todo discutam incansavelmente esse tema na busca por soluções.

Capital da república, centro das decisões políticas que ditam o rumo do País, Brasília começa a despontar também como a capital do empreendedorismo feminino. Cerca de 35% das mulheres do Distrito Federal (DF) são donas do próprio negócio, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Vida empreendedora

Por trás do sucesso do empreendedorismo feminino, estão inúmeras histórias de mulheres que conseguiram transformar os desafios encontrados em oportunidades. De fundadoras de negócios voltados para a educação a proprietárias de pequenas e grandes empresas, essas empresárias estão construindo um legado que mudará o jeito de fazer negócios no mundo. A reportagem da Escreva escutou quatro empreendedoras do Distrito Federal, que compartilharam suas histórias e motivações para entrar no mundo business. Todas elas refletem também sobre o impacto de participar de ações e programas que impulsionam a jornada empreendedora e mostram a força das mulheres nos negócios da capital brasileira.

Lili Lima, proprietária da Singular Medina e Estética e do Instituto Singular de Ensino e Saúde. Foto: Divulgação

Lili Lima

Proprietária da Singular Medina e Estética e do Instituto Singular de Ensino e Saúde, Lili Lima entrou no mundo dos negócios no início da carreira como fonoaudióloga, ao identificar uma necessidade de mercado. “Eu não escolhi empreender, o empreendedorismo me escolheu”, afirma a empresária.

Membro do Conselho de Mulheres Empreendedoras e da Cultura (CMEC), e do Clube de Mulheres de Negócios de Portugal (CMEC), a empresária ressalta o valor desses ecossistemas. “Eles nos unem e nos fortalecem. O acolhimento e a troca que ocorrem dentro deles e impulsiona os nossos negócios e a economia”, afirma.

Patrícia Calmon, empresária. Foto: Divulgação

Patrícia Calmon

A empresária e vice-presidente da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF), Patrícia Calmon, também reconhece a importância do papel dessas redes de apoio. “Tem sido um movimento crescente e importante na vida dessas mulheres. Muitas vezes, elas se veem na necessidade de complementar o orçamento familiar. Isso, quando não são as únicas provedoras do lar”, diz ela.

À frente de um dos negócios mais longevos da história gastronômica da capital, Patrícia sempre teve espírito empreendedor. Sucessora do pai, a proprietária da Pastelaria Viçosa apostou em um estilo de liderança inclusivo, a fim de gerenciar e expandir o negócio da família, que, hoje, conta com três lojas no coração da cidade e uma fábrica própria que atende dezenas de pastelarias espalhadas pelo DF e pelas regiões do Entorno.

Silvana Di Maio

Apaixonada por marketing, a comunicadora Silvana Di Maio fez carreira desenvolvendo grandes marcas, mas foi no empreendedorismo que ela encontrou e abraçou o seu real propósito de vida – alavancar empreendimentos femininos. E é por meio da Brasil Por Elas, uma empresa de educação fundada por ela, que Silvana tem colocado em prática essa missão, promovendo conexões que geram negócios entre empresárias brasilienses e de outras regiões do País.

“Se estamos em ambientes certos, com pessoas certas e o conhecimento certo, conseguimos avançar”, diz Silvana, que já vislumbra a abertura do primeiro coworking, que será 100% focado em negócios femininos com espaço para reuniões, palestras, experiências gastronômicas, estúdios para produção de cursos e podcasts no Distrito Federal.

Aline Barbosa, proprietária da Mistercryl Tintas e Revestimentos. Foto: Dimmy Falcão/ Sebrae DF

Aline Barbosa

Há 16 anos, a proprietária da Mistercryl Tintas e Revestimentos, Aline Barbosa, não imaginava o tamanho do impacto social que poderia gerar com a abertura da empresa. Hoje, sua principal motivação para continuar a empreender é a geração de emprego e renda, pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária. “Tenho mais de 30 empregados diretos e indiretos, que se somados os seus dependentes, são mais de 200 pessoas que dependem do meu negócio”, comenta Aline.

Colíder do Grupo Mulheres do Brasil, Aline é frequentadora assídua dos eventos do Sebrae e Senai. Para ela, o networking e as capacitações promovidas pelo sistema S é a melhor forma de acelerar processos e promover o crescimento da comunidade. “Estamos no caminho certo, mas ainda temos muito trabalho pela frente para promover efetivamente a equidade de gênero e outras mudanças importantes para a nossa sociedade”, finaliza Aline.


Não à violência contra a mulher

Neste ano, o Sebrae aderiu à iniciativa do Ministério das Mulheres, Brasil sem Misoginia, que visa à mobilização nacional de todos os setores – governos, empresas, ONGs, sociedade civil e entre outros – no enfrentamento à misoginia, ao ódio e a todas as formas de violência contra a mulher. A assinatura do termo de adesão aconteceu durante o Encontro Sebrae Delas, realizado em Brasília.

Para a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, “essa união dos mais diversos setores da sociedade para o enfrentamento ao feminicídio e todos os tipos de violência contra as mulheres é mais um passo importantíssimo para o País”.

Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal. Foto: George Gianni/ VGDF

No Distrito Federal, o governo tem trabalhado em parceria com a sociedade civil e as entidades representativas para desenvolver cada vez mais o empreendedorismo feminino como uma ferramenta de enfrentamento e combate à violência. É o que explica Giselle Ferreira, secretária de Estado da Mulher. “Formalizamos acordos de cooperação técnica com o governo federal e os órgãos do judiciário, com o objetivo de fortalecer a política de enfrentamento à violência contra as mulheres, garantindo a quem está em situação de violência doméstica e familiar o ingresso no mercado”.

Mais Políticas de enfrentamento a violência

No início de março deste ano, a vice-governadora Celina Leão, esteve presente no “Movimente – Mulheres Criativas Quebrando Barreiras”, um evento realizado pelo Sebrae-DF para propor e discutir políticas públicas, iniciativas, programas e projetos que impulsionem o cenário empreendedor feminino. Resultado: 52 propostas de políticas para serem implementadas.

“Essas propostas são valiosas para a construção de uma agenda efetiva e servem de base para estimular ainda mais o empreendedorismo feminino, trazendo uma contribuição significativa para a redução das desigualdades de gênero e promoção de oportunidades para as mulheres”, comenta Celina.

Dados levantados pelo Instituto Patrícia Galvão apontam que 53% das mulheres vítimas de violência doméstica não denunciam os abusos por dependerem economicamente dos seus agressores. Diante desse cenário, o empreendedorismo surge como uma luz no final do túnel: a independência financeira que elas precisam para quebrar esse ciclo.

“Por essa razão, queremos trazer oportunidades de negócio, orientações técnicas e, acima de tudo, fomentar um ambiente empreendedor favorável para que mais mulheres possam buscar e alcançar essa autonomia”, explica Rose Rainha, diretora superintendente do Sebrae no DF.

Empreender não é uma tarefa fácil. É preciso superar muitos obstáculos para ser uma empresária de sucesso. E nesse caminho, em que nem tudo são flores, poder contar com uma rede de apoio qualificada, pode ser um fator determinante para cruzar a tão sonhada linha de chegada.

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