Brasil ganha nova política industrial e pode beneficiar a educação

Inovação e sustentabilidade estão no centro da Nova Indústria Brasil, que definiu áreas estratégicas para investimento de acordo com o potencial impacto no desenvolvimento social e econômico do país.
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Texto: Hulda Rode

Após um amplo diálogo entre o governo e o setor produtivo, o Brasil deu um passo decisivo em direção à neoindustrialização. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) entregou ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o texto da Nova Indústria Brasil (NIB), a política industrial que impulsionará o desenvolvimento nacional, até 2033, com sustentabilidade e inovação.

Essa nova política visa melhorar diretamente o cotidiano das pessoas, estimular o desenvolvimento produtivo e tecnológico, ampliar a competitividade da indústria brasileira, nortear o investimento, promover melhores empregos e impulsionar a presença qualificada do País no mercado internacional.

Para reverter a desindustrialização precoce do País, essa nova política prevê a articulação de diversos instrumentos de Estado, como linhas de crédito especiais, recursos não reembolsáveis, ações regulatórias e de propriedade intelectual, além de uma política de obras e compras públicas, com incentivos ao conteúdo local, para estimular o setor produtivo em favor do desenvolvimento do País.

O governo federal aprovou um plano de ações para estimular o desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Denominada Nova Indústria Brasil (NIB), essa política foi oficialmente apresentada ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Foto: Iano Andrade / CNI

Para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o momento é histórico e reflete o compromisso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a construção de um país competitivo, inovador e na vanguarda da transformação ecológica.

“A nova política posiciona a inovação e a sustentabilidade no centro do desenvolvimento econômico, estimulando a pesquisa e a tecnologia nos mais diversos segmentos, com responsabilidade social e ambiental”, afirma Alckmin.

O ministro lembra que, ao longo do processo de construção da nova política industrial, uma série de medidas já vinham sendo lançadas dentro do escopo da Nova Indústria Brasil, a exemplo do programa Brasil Mais Produtivo, que destina R$ 2 bilhões para transformação digital de micro, pequenas e médias indústrias; e do Mais Inovação Brasil, que já começou a disponibilizar parte dos R$ 60 bilhões em linhas de crédito para o financiamento de inovação da indústria brasileira.

De acordo com Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI e diretor superintendente do SESI-DN, a Nova Indústria Brasil (NIB) é a mais recente política industrial brasileira, que recoloca a indústria no centro da estratégia de desenvolvimento do País. Essa foi uma decisão muito relevante do atual governo, por várias razões. “Primeiro, pela importância da indústria para a economia brasileira: a indústria de transformação responde por 46% das exportações de bens e serviços; 62,4% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento; 25,6% da arrecadação dos    tributos federais; 17,2% da arrecadação previdenciária, além de ser um setor tipicamente gerador de empregos de qualidade, pagando melhores salários que a média do Brasil. Portanto, quando esse setor melhora a sua performance, que é um dos objetivos da NIB, a sociedade como um todo sai ganhando. Em segundo lugar, a NIB é uma iniciativa necessária, pois é desafiador produzir no Brasil, ou seja, as condições de competição aqui, vis-à-vis às [condições] dos concorrentes internacionais, são desiguais”.

Na avalição de Lucchesi, o Custo Brasil, que reúne os problemas econômicos e institucionais do ambiente brasileiro, foi estimado em R$ 1,7 trilhão, correspondendo a 19,5% do PIB, em 2021. ‘Some-se a isso um spread bancário de 27,4%, diante de uma média mundial de 7,3%, que encarece os empréstimos e os financiamentos às empresas no País, reduzindo sua capacidade de investir e crescer. Isso torna o ambiente de negócios hostil. Assim, a política industrial deve contribuir para o melhor equilíbrio das condições de competição, como faz a NIB, ao prever medidas que atuam sobre alguns dos problemas já mapeados”.


A indústria na educação

Transformação digital é uma das metas estabelecidas na nova política industrial, e a expectativa é a de que haja reflexos no fortalecimento de tecnologias educacionais. Gustavo Leal, diretor-geral do SENAI, avalia que os novos processos produtivos, produtos e modelos de negócio resultantes das tecnologias digitais impõem desafios para as empresas e, consequentemente, para as instituições de educação profissional. Profissionais qualificados para atuar nessa nova indústria e de modo alinhado à sua dinâmica de permanente transformação digital constituem-se de fatores primordiais para a incorporação das tecnologias e para o alcance do aumento da produtividade daí resultante.

Gustavo Leal, diretor-geral do SENAI. Foto: CNI

“Na indústria, a maior disponibilidade de recursos educacionais digitais e o maior acesso a recursos cada vez mais versáteis e aprimorados, como softwares de aprendizado adaptativo, plataformas de ensino online, realidade extendida (virtual e aumentada), entre outros recursos deverão ser cada vez mais internalizados nas instituições educacionais, proporcionando aos alunos e professores acesso a materiais educacionais mais interativos, atualizados e personalizados. Além disso, a expansão da conectividade e a infraestrutura digital resultante da transformação digital da indústria contribuirá para formação de profissionais aculturados com o digital, com competências necessárias para atuar no mercado de trabalho e na sociedade digital. Vale, ainda, destacar os efeitos sobre a superação das barreiras físicas que tradicionalmente caracterizavam a educação, viabilizando a ampliação e a interiorização da oferta da educação profissional, em uma lógica que transforma os processos de ensino-aprendizagem”, explica Leal.

Nesse cenário, o desenvolvimento e a incorporação das tecnologias educacionais digitais e de sua cultura na educação profissional atuam para preparar melhor os profissionais, equipando-os com as habilidades necessárias para seguir aprendendo ao longo de toda sua carreira profissional e ter sucesso em uma economia cada vez mais digitalizada. Fortalecem-se, assim, as bases para viabilizar um caminho sólido de alta produtividade e competividade da indústria nacional.

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