Coluna: Franklin Yamasake
Em um cenário global cada vez mais competitivo, as cidades precisam se reinventar para garantir o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida de seus habitantes. A inovação urbana vai além da adoção de tecnologias inteligentes; trata-se de construir um ecossistema que estimule a criatividade, o empreendedorismo e a colaboração entre diversos setores da sociedade.
Muitas cidades brasileiras já contam com boa infraestrutura, capital humano qualificado e empresas consolidadas, mas para se tornarem polos de inovação, é preciso fomentar ambientes propícios ao empreendedorismo. Um dos principais desafios no desenvolvimento desses ecossistemas é saber como o setor público pode ser um parceiro para alavancar o setor privado, utilizando essa nova ferramenta disponível. Políticas tradicionais de desenvolvimento econômico, como a atração de fábricas ou a construção de espaços físicos, por exemplo, parques tecnológicos e coworkings, não são suficientes se não houver ações que movimentem esses ambientes.
Sem o “software” – isto é, sem uma rede ativa de conexões, programas e incentivos – o “hardware” permanece ocioso. Além disso, é necessário romper a bolha dos mesmos participantes e ampliar o acesso da população às oportunidades geradas. Outro desafio fundamental é o engajamento das pessoas. A transformação só acontece se a comunidade local estiver envolvida e motivada, superando a desconfiança em relação às iniciativas públicas e participando ativamente da construção de um novo modelo de desenvolvimento. A inovação depende de um esforço coletivo e de um sentimento de pertencimento que só se constrói com diálogo e incentivo.
Um exemplo inspirador é Sorocaba, no interior de São Paulo. Com uma forte base industrial e um histórico empreendedor, escolhi essa região para receber o Programa de Aceleração do Ecossistema de Inovação. Idealizei esse projeto inédito no Brasil, quando vi uma iniciativa pioneira na Europa, aprofundei-me nesse conhecimento ao longo de 4 anos de doutorado. Com essa bagagem em mãos, entre fevereiro e agosto de 2024, organizei seis workshops com mais de 100 dinâmicas práticas, mentorias e desafios coletivos. Formamos um comitê de líderes locais que assumiu a governança do ecossistema, garantindo sua continuidade. A comunidade de startups foi reativada com uma nova identidade: Tropeiro Valley. Inspirado nos tropeiros que, no passado, conduziam o comércio entre as cidades, o programa buscou resgatar esse espírito de conexão e inovação.
Ainda há pontos a avançar, como fortalecer a conectividade entre os atores, engajar mais as indústrias locais e consolidar uma cultura de investimento. Com o modelo de aceleração, cidades como Sorocaba mostram que é possível transformar estruturas existentes em motores de inovação e progresso. No Brasil, há centenas de regiões em que a cultura de inovação pode florescer com a participação abrangente dos stakeholders. Com a atualização sobre como participar dessa construção coletiva, os colaboradores podem participar mais ativamente com ideias na indústria, a população se atualiza e reconhece o papel do setor público, universidades e institutos de pesquisa se inserem efetivamente no ecossistema e empreendedores podem ter um ambiente mais favorável ao seu crescimento. O Programa de Aceleração do Ecossistema de Inovação é uma nova ferramenta que pode ser aplicada nessas regiões, evitando erros comuns e potencializando resultados.

Franklin Yamasake é empresário, doutor em inovação e professor. Fundador da Traciona, uma consultoria especializada no desenvolvimento de ecossistemas de inovação e co-fundador do grupo de investidores-anjo Poli Angels.