Colunista: Eduardo Galvão
Outro dia, em uma reunião, um estagiário GenZ soltou um “cringe” com naturalidade enquanto um colega baby boomer ajustava os óculos para entender se aquilo era um elogio ou uma doença. Eu ri. E pensei: se isso aqui fosse um grupo de WhatsApp, a figurinha seria “me sentindo jovem e velho ao mesmo tempo”. Mas ali, naquela (divertida) confusão de gerações, havia algo relevante: uma riqueza de olhares que nenhuma inteligência artificial poderia simular com tanta precisão.
Lidero uma equipe multigeracional. Tem gente que lembra do som da conexão discada da internet e outros que nasceram com o TikTok no bolso. E sabe o que descobri? Que essa mistura funciona. Mais que isso: ela gera entregas melhores para os nossos clientes. Porque quando você olha o mundo pelas lentes da diversidade geracional, você amplia sua própria visão. Enxerga o que está mudando, o que permanece e, principalmente, o que faz sentido para diferentes tipos de pessoas.
Mas isso exige sair da zona de conforto. O primeiro passo é parar de tratar gerações como estereótipos ambulantes. Os rótulos podem ser cômodos, mas também são perigosos. Um millennial não é, por definição, ansioso e carente de feedback. Um boomer não é, automaticamente, resistente à mudança. Pessoas são mais complexas do que as planilhas de RH costumam mostrar.
No ambiente de trabalho, esses estereótipos geracionais geram ruído. Prejudicam a comunicação, alimentam preconceitos e empobrecem as trocas. O resultado são mal-entendidos, tensões e uma cultura que exclui silenciosamente quem não se encaixa no “perfil do momento”.
Combater isso é papel da liderança. E liderar gerações diferentes não é sobre decorar o que motiva cada faixa etária. É sobre escuta, empatia e personalização. Os mais jovens buscam autonomia, impacto e reconhecimento rápido. Os mais experientes valorizam estabilidade, legado e respeito. E no meio disso tudo, existem pessoas com trajetórias únicas, que querem ser vistas como são, não como o ano em que nasceram.
Criar um ambiente inclusivo para todas as idades pode ser um ativo poderoso. Equipes multigeracionais, quando bem geridas, são mais criativas, mais adaptáveis e mais eficazes. Elas combinam a ousadia de quem chega com a sabedoria de quem já viu muito. Já adianto que, sim, dá trabalho. Mas dá resultado também.
No fim das contas, diversidade geracional não é sobre idade. É sobre perspectiva. E quanto mais perspectivas vêem para a mesa, mais chances temos de encontrar respostas melhores para os desafios que enfrentamos. O futuro do trabalho não é jovem nem velho. É colaborativo. E ele já começou.
Liderar por geração é como reger uma orquestra: o maestro que só ouve um instrumento perde a harmonia do todo.

Eduardo Galvão
Diretor da consultoria global Burson e professor de Políticas Públicas do Ibmec DF.